terça-feira, 19 de maio de 2009

Pobre do emo...

Tem um menino que todo dia pega ônibus comigo. Magricela, pálido, sempre com camisas pretas e botinha preta. Ele tem um cabelão, e as madeixas, nas pontas, são pintadas de vermelho (provavelmente com papel crepom). Sempre de fone, provavelmente ouvindo suas bandinhas de três acordes favoritas. Pois bem, estava eu a caminho do trabalho quando algo de muito triste aconteceu. Numa das avenidas principais da cidade, bem no Centro do Rio, um assalto. Quem foi a vítima? O pobre do emo. Ele estava sentado no banco alto da direita, mexendo no aparelhinho de música, quando o ônibus parou em um dos pontos mais movimentados daquela área. O que aconteceu? Um desses muitos moleques traiçoeiros que atormentam a vida dos cariocas meteu a mão pela janela e roubou o tal do aparelhinho do nosso emo (ele tem cara de Daniel, vamos chamá-lo de Daniel). Coitado... Logo que aconteceu, ele gritou: “Seu put*! Pega!!”. Ainda não tinha noção do que estava acontecendo, pensei que fosse assalto dentro do ônibus. Fiquei até receosa em olhar para trás, mas o fiz depois que reparei que todo mundo estava olhando. Quando vi, tava lá o menino Daniel ‘pê’ da vida, dando soquinhos do banco da frente. Pra que... Todo mundo começa a olhar e comentar. O pobre do emo, então, começa a chorar, se esvair em lágrimas. “Que maldade... Minhas músicas... Que maldade...”, ele ficava repetindo. Os comentários dos outros passageiros logo se transformam em risinhos de deboche. Aí me vira a senhora que estava sentada do meu lado, sorri e fala: “Ele também queria o quê? Fica andando pela rua com essas coisas caras de tocar musiquinha, ainda deu mole de ficar com aquilo na mão em vez de deixar na mochila”. Ela estava certa. A senhorinha, que devia ter seus 60 e poucos anos, parecia ser bem mais sábia (e sensata, coerente) que o pequeno rapaz emo. Depois de um tempo, ele se recompôs. Aí ligou para alguém (acho que para a mãe, não sei direito). Ele contou que levaram o aparelhinho dele com uma voz chorosa e começou: “Não... Não... Sim... Não... Lá no Centro... Agora? To chegando no trabalho... Não... Não... Ai, que saco, não, né”. E desligou. Estava triste, coitado, e ainda respodendo um monte de perguntas. Coitado do pobre do emo... Levaram tudo que é NX Zero e Fresno da vida dele. Será que, com isso, ele vai tomar jeito e ouvir boa música ou vai piorar de vez e cortar os pulsos? Sei não, hein...


UPDATE:

Ele cortou o cabelo!! Não disse que o evento seria traumatizante para o pobre do garoto? O vi poucos dias depois e lá estava ele: cabelo cortadinho, que nem gente. Mas ainda tinha uma parte avermelhada. Tsc...