segunda-feira, 30 de março de 2009

Hemorróida ou maluquice?

474. Méier - Praça General Osório. A caminho do trabalho.
Entrei no ônibus no Méier, estava bem vazio. Sentei, peguei o mp3 player e coloquei os fones. Naquele dia, eu lembro, eram os quatro rapazes de Liverpool os responsáveis por tornar minha ida para a labuta mais musical. Passaram uns dois pontos até que um cara que aparentava ter uns 40 anos entrou. Camisa social azul para fora da calça cinza e desbotada. Os sapatos pretos gritavam por uma boa engraxada. Ele tinha cara de Ubiratan. Bira. Ele carregava uma sacola plástica, com umas pastas dentro. Quando entrou, éramos uns oito passageiros apenas. Mas ele preferiu ficar no corredor, em pé. Acontece que ele não estava em pé como qualquer ser humano normal fica, de frente para a janela, deixando espaço para os outros passarem. Aquele senhor segurava nas barras superiores. Mão esquerda no lado esquerdo. Mão direita no lado direito. Ele ficou lá, atrapalhando todo mundo que queria entrar e sentar. Ah! Tem um detalhe: a tal sacolinha foi devidamente apoiada no banco que estava à esquerda de Bira. Ali, ninguém sentava, estava claro. Pois bem, o ônibus começou a encher. Restavam pouquíssimos lugares vagos. Até que em São Cristóvão, mais ou menos, entrou uma moça, devia ter uns 30 e poucos, bem arrumada. Tinha cara de, hum, Márcia. Ela foi direto pro banco do Bira. O que ele fez? Como se estivesse guardando o lugar, tirou a sacolinha imediatamente para a Márcia sentar, e, antes mesmo de ela oferecer, foi logo apoiando a sacolinha plástica no colo da dita cuja. A cara dela foi fantástica! Uma mistura de espanto com um sorrisinho que dizia 'claro que eu levo, moço, conte comigo'. Àquela altura do campeonato eu pensava: poxa, coitado, ele está com problema de hemorróida, por isso não senta. Era a única explicação plausível! Eu me perguntava por que ele não tinha uma daquelas almofadinhas infláveis em formato de bóia. Márcia desceu no Aeroporto Santos Dumont. Mas o Bira continuou em pé. Cerca de uma hora se passou até o Aterro do Flamengo. E foi lá que, do nada, Bira resolveu sentar. E adivinha em qual lugar? No mesmo onde esteve apoiada a sacolinha, no mesmo onde Márcia ficou. E sentou numa boa. Sem contorcionismos. Sentou como dissesse: 'só agora deu vontade'. E abraçou a sacolinha com os dois braços. Eu desci e ele continuou lá, sentado. E parecia feliz da vida.

Vida passageira

Já faz um tempinho que andar de ônibus virou rotina. Já são muitas as coisas legais que apareceram pela janela ou no corredor do ônibus - algumas até merecem acompanhamento diário. Mas acho que vale começar isso tudo aqui explicando mais ou menos como são as viagens de ida e volta do trabalho, que são as viagens mais corriqueiras. Pros que não sabem, moro no Méier e trabalho em Botafogo. Foi-se o tempo em que eu trabalhava no Centro. Já era a comodidade!
Mas vamo que vamo...
457. Abolição - Praça General Osório. Ô ônibus cheio dos infernos. Demora horrores pra chegar, e quando chega está lotado. Mas é a opção mais rápida. Faz o exato caminho que eu faria se estivesse de carro. O problema é que eu o pego muito longe do ponto final (ou inicial, no caso). Aí já viu, né. É aquele monte de gente disputando um lugarzinho bacana. Não preciso nem dizer que vou em pé a viagem toda, né? Do Méier a Botafogo, 40, 45 minutos de viagem graças ao péssimo trânsito do horário de rush. Ah, e tem um outro problema: ele não passa pertinho de casa, tenho que andar uns dois quarteirões para pegá-lo ou usar um outro ônibus até o ponto mais próximo. Haja paciência... Mas é a opção mais inteligente e menos preguiçosa. Pra voltar do trabalho, por exemplo, é só ele que eu pego. O tal mesmo caminho que eu faria de carro também vale pra volta. A bosta é ficar em pé, engarrafada em Laranjeiras, dividindo o pouco espaço que resta com outros passageiros, muitos sujos de areia e cheirando a praia. Faz parte...
474. Méier - Jardim de Alah. Esse sim! Passa na porta de casa. E quando eu digo 'na porta', é na porta mesmo (dá até pra vigiar o ponto da janela). Tão na porta de casa quanto o 457 na volta. Perfeito! E detalhe: o ponto em frente à minha casa é apenas o segundo do itinerário. Vazio, várias opções de lugares. Uma beleza. O problema é que ele dá uma volta do caramba. É mais ou menos assim: Méier, Jacaré, Benfica, Triagem, São Cristóvão, Leopoldina, Presidente Vargas, Aeroporto Santos Dumont, Aterro, Flamengo, Botafogo. Uma contramão absurda. Uma hora e vinte de viagem. Porém, sem grandes engarrafamentos. Mas vale a pena se a intenção é avistar situações incomuns. Reparou no itinerário? O que não falta é cena surreal e/ou interessante. Agora, pra voltar pra casa, nada de 474. Imagina essa volta toda depois de um dia cheio? Não.